Alentejanos submarinos
Praia do Malhão, 13:00 hrs desse dia. Tinhamos descido a falésia a algum custo após duas horas e meia de caminhada por entre dunas e arbustos, pedras, rochedos e flores.
A natureza é pródiga nesta faixa da costa Vicentina. O nosso grupo, eramos uma dezena, ansiava por um descanso e uma garrafa de água, quando não um molha pés na rebentação desmaiada.
A textura da vagueta atlântica era pertubada por três manchas em movimento que apenas se distinguiam dos rochedos semi-submersos pela sua cor: duas negras e uma laranja. Os dois caçadores submarinos e a sua bóia sinalizadora afastavam-se da areia, não há muito tempo pois a distância a terra pautava-se por ainda umas poucas dezenas de metros.
Já sentados, subitamente damos por algo estranho na praia e dentro de água. Gentes na areia bradavam olhando e gesticulando para as ondas e na água a gente das ondas gesticulava por sua vez como que a responder. Emoção, arrepios e calafrios. Os bravos sirenideos pediam socorro.
Feito apelo imediato a um surfista, eis que o moço se ataca à procela em direção aos malogrados desportistas.
Desprezando aquele que se encontrava mais próximo da salvação vai batendo pés e mãos com o entusiasmo a que uma tão humanitária missão convida. A vítima mais longínqua debatia-se numa dança macabra de braços e barbatanas a compasso cada vez menos allegro.
Entretanto o mais feliz já nadava de costas a caminho de uma rocha na qual colidiu com a cabeça, diga-se de passagem, ornada com imponente rabo de cavalo. Modernices.
A atrapalhação era tal que o rapaz nem tinha reparado que já tinha pé havia algum tempo. Salvo! Se bem que um pouco dorido e pálido, no garbo dos seus vinte e tais.
Decorriam mais ao longe as manobras do surfista lingrinhas para içar para a prancha oportuna o outro desgraçado camarada, possuidor de um corpanzil mais alentado, esvaído quase completamente de força anímica. Finalmente a bordo, a viagem para terra faz-se sem história.
Descarregado como um saco de batatas na arrebentação, que o peso era muito, ainda engole uns pirolitos até uns outros amigos o puxarem mais para cima.
Uns fatos de mergulho irrepreensíveis faziam adivinhar um profissionalismo nesta actividade. Uns cintos de pesos de chumbo, brilhantes, à cintura anulavam o palpite!.
Então não é que os meninos tinham ido fazer caça submarina com lastro só necessário para mergulho com garrafas e não contentes com isso, encontrando-se em dificuldades, nem sequer lhes ocorreu abrirem as fivelas e largarem os pesos para o fundo. É que calçados de barbatanas com quase um metro de comprido facilmente nadariam (se bem que não tenha chegado a inteirar-me dessa capacidade nos nossos heróis) até à praia.
Não acho especialmente graça a anedotas de alentejanos, mas aqui...
Como fim de festa, já o gordo tinha regurgitado um alqueire água salgada, arrima-se lhe a namorada, urbanamente depilada, que o interpela na entoação local:
- 'tão môri? Qué que tacontecêêêu? Rais ta partan. Já é a segunda vez. Ê bêm te disse pra trazeres as braçadêras tambêm cas barbatanas só nâ chegavam!
A natureza é pródiga nesta faixa da costa Vicentina. O nosso grupo, eramos uma dezena, ansiava por um descanso e uma garrafa de água, quando não um molha pés na rebentação desmaiada.
A textura da vagueta atlântica era pertubada por três manchas em movimento que apenas se distinguiam dos rochedos semi-submersos pela sua cor: duas negras e uma laranja. Os dois caçadores submarinos e a sua bóia sinalizadora afastavam-se da areia, não há muito tempo pois a distância a terra pautava-se por ainda umas poucas dezenas de metros.
Já sentados, subitamente damos por algo estranho na praia e dentro de água. Gentes na areia bradavam olhando e gesticulando para as ondas e na água a gente das ondas gesticulava por sua vez como que a responder. Emoção, arrepios e calafrios. Os bravos sirenideos pediam socorro.
Feito apelo imediato a um surfista, eis que o moço se ataca à procela em direção aos malogrados desportistas.
Desprezando aquele que se encontrava mais próximo da salvação vai batendo pés e mãos com o entusiasmo a que uma tão humanitária missão convida. A vítima mais longínqua debatia-se numa dança macabra de braços e barbatanas a compasso cada vez menos allegro.
Entretanto o mais feliz já nadava de costas a caminho de uma rocha na qual colidiu com a cabeça, diga-se de passagem, ornada com imponente rabo de cavalo. Modernices.
A atrapalhação era tal que o rapaz nem tinha reparado que já tinha pé havia algum tempo. Salvo! Se bem que um pouco dorido e pálido, no garbo dos seus vinte e tais.
Decorriam mais ao longe as manobras do surfista lingrinhas para içar para a prancha oportuna o outro desgraçado camarada, possuidor de um corpanzil mais alentado, esvaído quase completamente de força anímica. Finalmente a bordo, a viagem para terra faz-se sem história.
Descarregado como um saco de batatas na arrebentação, que o peso era muito, ainda engole uns pirolitos até uns outros amigos o puxarem mais para cima.
Uns fatos de mergulho irrepreensíveis faziam adivinhar um profissionalismo nesta actividade. Uns cintos de pesos de chumbo, brilhantes, à cintura anulavam o palpite!.
Então não é que os meninos tinham ido fazer caça submarina com lastro só necessário para mergulho com garrafas e não contentes com isso, encontrando-se em dificuldades, nem sequer lhes ocorreu abrirem as fivelas e largarem os pesos para o fundo. É que calçados de barbatanas com quase um metro de comprido facilmente nadariam (se bem que não tenha chegado a inteirar-me dessa capacidade nos nossos heróis) até à praia.
Não acho especialmente graça a anedotas de alentejanos, mas aqui...
Como fim de festa, já o gordo tinha regurgitado um alqueire água salgada, arrima-se lhe a namorada, urbanamente depilada, que o interpela na entoação local:
- 'tão môri? Qué que tacontecêêêu? Rais ta partan. Já é a segunda vez. Ê bêm te disse pra trazeres as braçadêras tambêm cas barbatanas só nâ chegavam!
2 Comments:
Olá amigão, como estás belo post e muito divertido. Vê se colocas uma foto com um ar mais divertido pois essa tá muito sisuda. beijokas
A autora Maria de São Pedro, a Papiro Editora e a Fnac têm o prazer de convidar V.Exas. a estarem presentes para o lançamento do livro GATO PEDRA no dia 19 de Maio, pelas 19.00h na Fnac - Cascais Shopping.
Enviar um comentário
<< Home