segunda-feira, maio 09, 2005

Pseudo-filosofando

Pintar um retracto é difícil. Não tanto pelo semelhança com o original, uma fotografia, que essa só depende da aptidão para a cópia. Sim pelo surgimento da alma do retractado que pretendemos que ressalte da obra. Quando o representado se não encontra já entre nós e aquela subiu às Gloriosas Paragens, resulta impossível ao comum dos mortais trazê-la de volta e imbuí-la na pintura.
Retracto de defunto, mesmo que muito perfeito, arrisca-se a ser reprodução colorida de máscara funerária.
Mas eu, teimoso e ingénuo como sou, estou a tentar ultrapassar esta dificuldade procedendo a uma experiência que tem algo de metafísico e patético, simultaneamente.
Quero conseguir demonstrar que, existindo um elo anímico forte entre o pintor e o modelo, consubstanciado, no caso presente, numa amizade forte de longa data que só se desvanece com o desaparecimento dos dois, através de mim fluirá para a tela algo mais - nem que seja apenas uma pequena amostra daquilo que se não vê mas se sente na presença de qualquer ser humano: a personalidade individual, que é como quem diz, o espaço espiritual único que cada ser distinto ocupa no universo das nossas relações.
O desenho e a pintura levaram 6 horas de trabalho a serem postos no pequeno rectângulo. Esse rasgo da identidade do Manuel Maria sei que levará muitas, muitas mais. Assim Deus me ajude.

3 Comments:

Blogger Mitsou escreveu...

Bonito, esse teu gesto. E não me refiro apenas ao de pegar em pincéis e tintas. Beijo grande.

(P.S. olha que eu ainda por lá ando, vai espreitar :)

15:04  
Blogger Unknown escreveu...

Olá então também és pintor! além de escreveres bem também pintas, mas que homem dotado, existe pouco disso. Bj

17:05  
Blogger Raquel Vasconcelos escreveu...

É o "In memoriam"?

Pq se é... então deste-lhe vida própria, como se para sempre estivesse aqui, sorrindo de algo que só vocês sabem...

17:10  

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