Rolando pela M45 sul, que rodeia a capital do país de nuestros hermanos, para apanhar caminho de casa, conduzia eu lesto, ou talvez um pouco mais, na companhia da inestimável cara-metade, do pimpolho e de mais um amigo, estes dois no banco de trás.
De má consciência já, prevaricador, sou ultrapassado por um carro escuro que me exibe à sua janela direita um fácies severo e uma mão que, entre o abanar de uma credencial alegadamente oficial e um gesto autoritário, me sugeria que o seguisse para a saída imediata.
Deito contas à vida salpicadas aqui e ali por palavrões vocalizados com raiva de mim próprio.
-Tou lixado (isto na versão pública). Raio de azar. Lá me vão ao bolso. Talvez não seja muito. Vinha só a mais 20km/h que o limite. Bem, vamos a ver...
Paro na berma atrás da viatura ordenante de onde já tinham saído dois indivíduos à paisana, de indumentária escura, um de blusão e outro de casaco, ambos de camisa branca e gravata azul escura. O mais velho chega-se à janela do meu lado mostrando rápidamente um cartão com fotografia que dizia Policia, e num estilo rápido e num espanhol macarrónico me pergunta, depois de me dizer que eu ia a “correr mucho”:
-Tienes passaporte falso, trazes armas, droga, dinero falso?
Desatei a rir-me, manifestando aos meus botões a estranheza da situação, e mostrei-lhe o BI e também uma única nota de 20 Euros, ao mesmo tempo que lhe ia dizendo que não transportava nada do que me perguntava.
Disse-lhe de caras que ele não era espanhol e perguntei-lhe que fazia ali. A criatura desloca-se então para o lado da porta da minha mulher e com a mesma cantilena pede-lhe para ver o dinheiro ao que ela acede passando-lhe para a mão algum que é rapidamente inspeccionado pelo energúmeno antes que a moça tenha tempo de lho retirar das manápulas.
Nesta altura já estávamos razoavelmente convencidos de que se tratava de malandrice e insisti em saber quem eram.
Foi-me respondido que pertenecian a uma brigada internacional, italiana no caso, e que procediam a investigaciones na carretera.
Entretanto, o outro, o condutor, apresentava-se ao meu lado questionando-me se eu falava espanhol ao que eu reagi berrando direito ao gajo pedindo-lhe a identificação de uma forma mais violenta. Afastou-se então dizendo que a ia buscar à sua viatura e não mais voltou.
Entretanto rosnei também para o primeiro, o qual foi dizendo para eu não sair dali que ele ia mandar vir a polícia regular. Isto feito, esgueirou-se para o seu próprio transporte que partiu sem delongas.
Arranquei, e debaixo da tensão do momento só passados alguns instantes é que a minha mulher, tirando o dinheiro da carteira, verificou a falta de 300 Euros.
Tínhamos sido assaltados...com vaselina: não custou nada e quase não demos por isso. Antes assim.
Caros leitores solicito que divulguem esta pequena e verídica história.
Depois, na esquadra da Guardia Civil, fui informado que a Policia de Trafico à civil quando manda parar alguém fá-lo sempre ou com luzes que põem no tejadilho ou com um cartaz bem visível e identificado.
Não se deixem pois papar como este anjinho.
Nota excepcionalmente positiva, para este reaccionário e conservador:
A esquadra da Guarda Civil de Valmojado, a cerca de 40 km de Madrid, apresenta uma pequena mísula improvisada, cheia de flores frescas que rodeiam uma imagem da Virgem e na parede principal pende, sem acanhamento, um imponente crucifixo, além da fotografia do Rei.
Quero dizer-lhes que o comandante teria uns trinta e poucos anos e o agente que recebeu a queixa nem aos trinta chegava.
Sem comentários.