Cada Verão há , pelo menos, uma história para contar. Recordo-me certa vez, estando á borda de água de conversa com malta que por ali se gasta, na zona mais social da praia do Malhão, ao passar a vista pela rebentação lobrigo o meu amigo Almirante C. acenando efusivamente com água pelo peito. Como o mar estava relativamente manso supusemos todos que se tratava de uma manifestação de efusiva alegria de nos ver (coisa que, à partida já seria basto estranho vinda de quem vinha, homem sério pouco dado a gestos inúteis). Respondemos todos em conformidade esbracejando e gritando feitos parvos dando como encerrado esse episódio de urbanidade.
Mas não é que o garboso marinheiro não se cansava e chamava-nos para dentro de água! Pelo sim pelo não, não fosse o rapaz estar a sentir-se mal, meto-me ao mar na sua direcção mas com uma certa dignidade. Sempre era um Almirante. Chegado ao pé do suposto naufrago deparo-me com um Oficial General marítimo, roxo de frio e em pelo. Na verdadeira acepção da palavra pois o JL, em termos de tecido capilar corporal, fazia inveja ao King-Kong. Do fato de banho, nem sombras.
-“ Ó Zé Maria, faz-me um favorzinho. Pede à F. (sua mulher) uma toalha para eu poder sair da água.”sussurra, batendo castanholas com os dentes.
-“ Favor concedido, meu Almirante, mas não sais daqui sem uma boa explicação”
-“ Deixa-te lá de merdas. Eu depois conto”
Suspenso no suspense vou a caminho da esposa em demanda do pano destinado a esconder as pudibundas e almirantinas partes das vistas das tão virtuosas e inocentes senhoras que decoravam as alvas areias.
Salvas as aparências, posto o corpo a seco, esprememos-lhe a história.
Audaz, como todo o luso mareante, resolveu experimentar os benefícios da exposição integral do seu precioso velo às radiações do Astro Rei. Para tal, deslocou-se a uma pequena praia adjacente, a Praia dos Nús, que dista desta cerca de quinhentos metros.
Como o ar estava quente, a água tépida e as ondas rasas deitou-se na areia húmida mesmo na orla, com o calção ao lado, à mão de semear, não fosse aparecer alguma pequena excursão de gente conhecida em visita turistico-peno-vagino-mamal (este é um programa que já faz parte das actividades de lazer estivais, para o pessoal têxtil ).
Vencido pela modorra sucumbe aos prazeres do sono. A partir daqui a descrição do que se passou é confusa. Certo é que o fato de banho desapareceu e não lhe conseguimos arrancar qualquer explicação coerente. Choque traumático fruto do estado de algidez? Nunca o saberemos.
O pudor da patente e não só, obrigou-o, pois, a percorrer o meio quilómetro que o separava da civilização, por dentro de água, a recato de olhares mais concupiscentes. É assim que no fim desta saga nos deparamos com ele e sua desesperada dança aquática.